Anthony Pereira: Instabilidade corroeu imagem do Brasil, mas também clichês
Apesar de afetar negativamente a imagem que o Brasil fortaleceu no resto do mundo na virada do século 20 ao 21, a atual instabilidade política e econômica pode ajudar a mostrar que o Brasil é um país complexo e vai além dos estereótipos mais comuns.
A análise é do cientista político Anthony Pereira, diretor do Instituto Brasil do King's College London, em entrevista à "Folha de S.Paulo".
"Por um longo tempo, o Brasil se beneficiou de uma imagem favorável no exterior. De 1995 até por volta de 2012, a estabilidade político-econômica era muito atraente. Mesmo naquela época, porém, muitos associavam o Brasil a coisas divertidas que não eram nada essenciais. Essa imagem foi corroída de alguma forma por anos de instabilidade, mas talvez –talvez– observadores estrangeiros também passaram a perceber que o Brasil é complicado e que está lidando com vários assuntos graves que o resto do mundo também lida. Talvez o estereótipo do Brasil como decorativo e supérfluo esteja desaparecendo aos poucos", disse.
Esta avaliação segue a linha defendida por Pereira no prefácio que escreveu para a segunda edição do livro "Brazil, um País do Presente" (escrito pelo autor deste blog Brasilianismo). Na avaliação dele, apesar de crises e instabilidades, "o mundo está cada vez mais interessado no Brasil, e o Estado brasileiro está mais presente em assuntos internacionais do que jamais esteve antes".
Na entrevista à "Folha" o cientista político avalia a atual crise em torno do governo de Michel Temer. Para ele, a saída do presidente e novas eleições diretas seriam a saída mais democrática para o país.
"Uma eleição indireta no Congresso poderia parecer casuística e ilegítima para muitas pessoas. Dada essa alternativa, um eleição direta parece mais robusta, do ponto de vista da qualidade da democracia brasileira."
Questionado sobre o debate internacional sobre o impeachment de Dilma Rousseff, Pereira criticou o processo, mas disse não vê-lo como um golpe de Estado.
"Com relação ao impeachment, concordei com o que as pessoas viram como ilegítimo, não porque os procedimentos usados eram inconstitucionais, mas porque a justificativa para o impeachment parecia arbitrária, aplicada de forma inconsistente e casuística. Mas também discordei dos que chamaram de 'golpe'."
Em entrevista ao "Valor Econômico", em 2015, Pereira já tentava analisar de forma objetiva a situação política brasileira, fugindo da polarização do debate nacional.
"O debate político no Brasil atualmente é muito passional. Eu tento me colocar de forma mais objetiva. Olhando de fora, conseguimos ver essa questão de forma menos passional de que os analistas que estão no Brasil, avaliando comparativamente e escapando da narrativa das pessoas que estão vivendo a crise, o calor do momento. Falar que este é o governo mais corrupto que já houve, por exemplo, é algo que não tem base comparativa real", dizia, na época, sobre o governo de Dilma.
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