Alex Cuadros: Temer enfrenta acusações mais sérias do que Dilma enfrentou
O acirramento da crise política e as acusações contra o presidente Michel Temer fazem com que a pergunta mais importante do momento não seja mais se Temer vai ficar no poder, mas sim quem vai assumir em seu lugar, avalia o jornalista Alex Cuadros em um artigo publicado na revista americana "The New Yorker".
"Menos de um ano depois de a ex-presidente Dilma Rousseff ter sido removida do cargo, Temer enfrenta a possibilidade de um destino semelhante. E com o populismo de direita em ascensão no país, como em todo o mundo, o que está em jogo é mais importante do que nunca", diz Cuadros.
Ex-correspondente da rede de economia "Bloomberg" no Brasil e autor do livro "Brazillionaires", sobre os megarricos do país, Cuadros compara a situação do atual presidente com sua antecessora.
"As alegações contra Temer são muito mais sérias do que as enfrentadas por Dilma, que foi removida, tecnicamente, por burlar as regras arcaicas do orçamento. Mas, no Brasil, como nos Estados Unidos, o impeachment é um processo político –e Temer é um mestre da política", diz.
Segundo ele, é importante marcar a ironia da ascensão de Temer ao poder, possível por revelações contra o governo de Dilma –mesmo que, como vice-presidente, ele tenha tido participação importante no governo dela. "Sua tarefa era manter a coalizão governante satisfeita com a distribuição de cargos. Quando ele subiu para a Presidência, ele não tinha intenção de reformar esse sistema."
Cuadros tem sido um crítico do sistema político brasileiro na imprensa internacional. Escrevendo em setembro do ano passado para o jornal "Financial Times", ele já defendia novas eleições no país como forma de dar mais legitimidade ao sistema político brasileiro.
"Claro que novas eleições não são suficientes para consertar as falhas estruturais no sistema político brasileiro", diz. A vantagem desta opção, segundo ele, é que daria mais legitimidade a um governo pós-Dilma
"A alternativa mais provável é o aumento da separação entre a população e o processo político. Isso vai tornar mais fácil para a classe política brasileira pensar em si mesma, como há tempos já faz, em detrimento dos cidadãos comuns", dizia.
Em um artigo publicado imediatamente após o impeachment de Dilma Rousseff na "New Yorker", ele avaliou que o impeachment serviu como um voto de censura, referência ao mecanismo usado no parlamentarismo para afastar um primeiro-ministro sem apoio político
Sem defender o impeachment, ele também não abraça a tese de golpe de Estado, e diz que as coisas não são simples em preto e branco. "Em português, a palavra 'golpe' se referre a 'golpe de Estado' – mas também pode significar 'trapaça"', dizia.
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