Mídia estrangeira vê pressão política de esquerda e direita sobre carnaval
Normalmente conhecido no resto do mundo como um "bacanal do politicamente incorreto", o carnaval brasileiro está sofrendo efeitos da polarização no país. A festa se tornou alvo de pressão política por todos os lados, segundo reportagens publicadas na imprensa internacional.
Textos publicados no jornal "The Washington Post" e na revista "The Economist", por exemplo, indicam que há um movimento da esquerda cobrando a exclusão de marchinhas politicamente incorretas de blocos do Rio de Janeiro e campanhas conservadoras de grupos religiosos cobrando menos exposição das mulheres e mais referências a religião.
"A transgressão sempre foi parte do objetivo [do carnaval], mas neste ano o bacanal do politicamente incorreto está provocando uma reação", diz a "Economist", que foca especialmente nas críticas ao conteúdo racista e homofóbico em marchinhas.
"Você já viu as imagens do carnaval brasileiro. Um mar de pessoas nas ruas, mulheres cobertas em óleo dançando samba à velocidade da luz e grupos de trompetes, trombones e tambores tocando músicas. Mas neste ano a tradição anual de indulgência lasciva está mostrando sinais de mudança", diz o "Washington Post".
O jornal trata do confronto entre a "cada vez mais poderosa igreja evangélica" e movimentos progressistas. "Os dois estão pressionando o carnaval para adaptá-lo a suas prioridades opostas", diz.
Segundo a publicação americana, uma das principais referências da disputa política em torno do carnaval é o fato de que a dançarina globeleza apareceu vestida na vinheta da TV Globo, rompendo com a tradição do canal.
O carnaval é um dos mais fortes clichês da imagem internacional do Brasil, e é natural que qualquer debate em torno de um símbolo tão forte do país acabe tendo destaque no resto do mundo.
É interessante perceber que a discussão sobre política em torno do carnaval ganha espaço depois de dois anos em que a festa tradicional foi ofuscada pela crise no Brasil. Tanto em 2015 quanto em 2016, um dos principais focos da mídia estrangeira ao tratar do carnaval era apontar que a folia seria encolhida por conta dos problemas econômicos do país, ou de que o Brasil iria dançar "à beira do abismo", como disse a "Economist" no ano passado ou até que a festa seria cancelada, como relatou o "Financial Times".
Neste ano os primeiros relatos da imprensa de economia mostravam o contrário, que o país começa a se recuperar e que o carnaval deve ajudar as finanças nacionais. Uma vez que a festa deixa de ser ofuscada pela crise, é curioso que a imprensa de outros países busquem outros temas para tratar, encontrando a disputa política, também muito associada ao atual momento polarizado do país. É interessante ainda que, por meio do carnaval e de imagens tão cheias de estereótipos seja possível apresentar a muitos leitores do resto do mundo um traço importante da atual realidade política do país.
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