Cotas geram debate sobre raça e preconceito no Brasil, diz jornal canadense
Um sistema criado para evitar fraudes em concursos que oferecem cotas de vagas para negros e pardos no Brasil gerou polêmica e acabou abrindo um debate sobre o significado de questões de raça e sobre discriminação racial no país, segundo uma reportagem do jornal canadense "Globe and Mail".
"A política nasceu de boas intenções, mas gerou questões atordoantes, às vezes dolorosas: O que torna uma pessoa negra ou branca? São feições faciais? Cabelo? Família? Ou uma experiência de racismo? E quem decide?", pergunta.
A reportagem se debruça sobre uma série de casos em que brasileiros que se declaram negros foram rejeitados por comissões que avaliam se os candidatos têm direito a vagas separadas para políticas de ação afirmativa. E aponta problemas no sistema.
"A política de cotas é um esforço controverso de reparação à escravidão e centenas de anos de discriminação racial. Depois que a escravidão foi proibida em 1888, o Brasil não teve políticas explícitas de discriminação, como as leis Jim Crow no sul dos EUA. Ao contrário, o país cultivou uma imagem de 'democracia racial' onde todos eram participantes iguais", diz o texto, se referindo ao mito que se criou sobre racismo no Brasil.
Por décadas o país vendeu no exterior esta imagem de que não tinha racismo, por não ter leis que forçassem a segregação. Mais recentemente, entretanto, observadores e pesquisadores estrangeiros passaram a perceber e divulgar o quanto o racismo continuava presente na sociedade brasileira, buscando derrubar o mito.
"O efeito de 140 anos de exclusão sistêmica de pessoas negras, baseado em uma hierarquia de tons de cor de pele, é óbvio atualmente", diz o jornal canadense.
A reportagem explica que o sistema de cotas nasceu para tentar diminuir essas diferenças baseadas em raça, e que em seus primeiros anos ela se baseava na autodeclaração de raça dos candidatos, mas que houve abusos e foram registrados casos de pessoas brancas se aproveitando do sistema.
Isso levou à formação de uma "comissão de verificação de raça", que virou o centro da polêmica. "Isso significa que um painel de assessores olharia para cada candidato e decidiria se sua aparência se encaixava na raça declarada por ela", diz. "O resultado, frequentemente, é confuso", completa.
Sem uma escala objetiva para determinar algo tão subjetivo e individual quanto raça, diz o jornal, já há quem questione todo o sistema de ação afirmativa.
"Enquanto muitos ativistas são ferozmente envolvidos em proteger a limitação de vagas de ação afirmativa para alguém que tenha sido vítima de discriminação, outross argumentam que deixar o Estado definir a raça é uma regressão", explica.
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