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Tariq Ali vê influência dos EUA em 'golpe' contra a esquerda brasileira

Daniel Buarque

06/10/2016 11h37

Tariq Ali vê influência dos EUA em 'golpe' contra a esquerda brasileira

Tariq Ali vê influência dos EUA em 'golpe' contra a esquerda brasileira

O escritor e ativista de esquerda paquistanês Tariq Ali acredita que houve um golpe constitutional no Brasil. Para ele, a direita se aproveitou de erros cometidos pelos governos do PT para tomar o poder – com a provável ajuda imperialista do governo dos Estados Unidos.

Em um discurso de 30 minutos na série de vídeos "Global Empire", divulgado no site da rede venezuelana Telesur, Ali avaliou as crises que levaram o Brasil à atual situação política e econômica. Ele criticou a falta de avanço social sob Lula e Dilma, atacou as medidas de austeridade e tentou mostrar como a esquerda precisa se reorganizar no país.

O ativista insinua que o impeachment é parte de uma grande mobilização internacional liderada pelos Estados Unidos para mudar os regimes de esquerda na América Latina. Para ele, os americanos achavam que "era hora de mudar a maré", diz. Eles pensaram que "seria interessante se o Brasil fosse nosso novamente", explica.

Ali admite que ainda nao há evidência de envolvimento dos EUA no que chama de "golpe constitucional" contra Dilma, mas diz que o presidente Michel Temer foi informante da inteligência norte-americana.

"Podemos provavelmente dizer, com alguma confiança, que o que aconteceu no Brasil hoje aconteceu com o conhecimento e a aprovação da embaixada americana", diz.

Segundo ele, a atitude dos governos do PT em relação aos EUA foi dúbia, mas o Brasil se recusou a atuar como representante regional dos americanos, e por isso os dois países teriam rompido. "Se este for o caso, eles devem estar muito felizes com o que está acontecendo no Brasil"

Para Ali, o Brasil está passando por uma grave crise depois de "um impeachment brutal muito bem orquestrado contra a presidente legalmente eleita por uma combinação de de ex-aliados e o Judiciário".

O escritor critica a cobertura jornalística de grandes veículos da imprensa econômica mundial, como a revista "The Economist" e o "Financial Times". Essas publicações elogiavam o Brasil de Lula por sua contraposição ao bolivarianismo da Venezuela de Hugo Chávez – mas assumiram postura crítica ao país em anos recentes.

Segundo Ali, a mobilização de direita se aproveitou que a população brasileira ficou irritada com o governo do PT a partir da reeleição de Dilma. Quando a economia brasileira desacelerou, ele explica, o país tomou um rumo reformista diferente, o que criou insatisfação no país.

"Antes mesmo do segundo mandato de dilma, uma decisão fatal foi tomada para mudar os rumos da economia. De repente, sem aviso, ela embarcou em medidas de austeridade", critica.

As medidas de austeridade propostas a partir da indicação de Joaquim Levy para o ministério da Fazenda "foram uma decisão maluca. Significou grandes cortes em gastos sociais, redução de crédito de bancos publicos, venda de estatais, aumento de taxa de juros e o resultado era previsível, uma grande recessão", ataca. "Sua popularidade desapareceu da noite para o dia"

Foi a partir daí, ele diz, que a oposição ganhou forças "agora decidiu tomar o poder por um golpe constitucional", diz, criticando as acusações "vagas" do impeachment.

"Vendo a oportunidade, a direita do Brasil atacou com força", diz, chamando as acusações contra Dilma de falsas.

Apesar da crítica ao processo, ele ataca também a falta de avanços sociais reais nos governos do PT, que não deram educação e estrutura básica para que os pobres passassem a uma situação melhor. "O Partido se tornou uma máquina eleitoral", diz, em relação ao PT.

"Temos que aprender algumas lições, pois as eleições de 2018 vão ser decisivas", diz. "Estamos começando a ver pela primeira vez desde a crise uma união de forças. Há muita raiva no Brasil contra o que a direita está fazendo, e uma mobilização para que a direita nao se consolide no poder."

Segundo ele, apesar do impeachment, o jogo ainda não acabou para a esquerda brasileira.

"O impreachment de Dilma foi uma derrota, mas as razões para ela não são exclusivamente externas, e muitos erros foram cometidos. Para que o Brasil tenha sucesso no futuro, é preciso aprender com esses erros e entender que a menos que algo seja feito para dar infraestrutura social que beneficie os pobres e a clssse média, o país vai continuar um refém permanente das forças de direita dentro do seu território e fora dele."

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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