Alex Cuadros: Novas eleições dariam mais legitimidade à política pós-Dilma
Apesar do impeachment de Dilma Rousseff, a disputa política está longe de ser resolvida no Brasil, que continua em crise. A avaliação foi feita pelo jornalista e escritor americano Alex Cuadros, em artigo publicado no "Financial Times".
Segundo ele, o país vê crescerem as divisões políticas e a descrença na democracia, e está distante de resolver suas falhas estruturais. Nem mesmo novas eleições alcançariam isso, ele explica, mas ao menos daria mais legitimidade ao pós-Dilma.
"Michel Temer, o presidente do Brasil, pode ter esperança de reunir o país, mas muitos na esquerda o chamam de 'golpista"', diz. "Muitos dos que apoiaram o impeachment de Dilma apontam dados que dizem que 60% dos brasileiros a queriam fora do governo. Uma proporção semelhante também quer que Temer saia, entretanto", explica.
Ex-correspondente da rede de economia "Bloomberg" no Brasil e autor do livro "Brazillionaires", sobre os megarricos do país, Cuadros comenta dados recentes que indicam que apenas 32% dos brasileiros acreditam que a democracia é a melhor forma de governo. "Isso é preocupante, mas compreensível, dada a disputa amarga pelo poder que paralisou Brasília desde a reeleição de Dilma Rousseff em 2014", explica.
A insatisfação com o novo governo poderia levar a novas eleições, ele diz, mas isso talvez também não resolva os problemas do país. "Claro que novas eleições não são suficientes para consertar as falhas estruturais no sistema político brasileiro", diz.
A vantagem desta opção, segundo ele, é que daria mais legitimidade a um governo pós-Dilma.
"A alternativa mais provável é o aumento da separação entre a população e o processo político. Isso vai tornar mais fácil para a classe política brasileira pensar em si mesma, como há tempos já faz, em detrimento dos cidadãos comuns", diz.
Cuadros tem sido um crítico do sistema político brasileiro na imprensa internacional. Em um artigo publicado imediatamente após o impeachment de Dilma Rousseff na revista "The New Yorker", Cuadros avaliou que o impeachment serviu como um voto de censura, referência ao mecanismo usado no parlamentarismo para afastar um primeiro-ministro sem apoio político.
Sem defender o impeachment, ele também não abraça a tese de golpe de Estado, e diz que as coisas não são simples em preto e branco. "Em português, a palavra 'golpe' se referre a 'golpe de Estado' – mas também pode significar 'trapaça"', dizia.
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