Na ONU, Temer tenta legitimar governo brasileiro, visto como 'disfuncional'
A legitimidade do governo brasileiro no resto do mundo tem sido um ponto importante da política nacional neste ano turbulento. O processo teve um ponto importante no discurso do presidente Michel Temer a abertura da Assembleia da ONU, em Nova York, quando ele defendeu que o impeachment seguiu a Constituição.
Desde o início do debate sobre impeachment, antes da votação contra Dilma Rousseff na Câmara de deputados, do seu afastamento e de Temer assumir a Presidência, grupos opostos têm disputado a imagem da política brasileira no mundo.
Dilma e o ex-presidente Lula deram uma série de entrevistas à imprensa internacional, denunciando o impeachment como um golpe de Estado. Enquanto isso, o grupo que liderou o movimento para tirar o PT do poder mandou emissário aos EUA para defender o impeachment e criou uma política de defesa do processo de impeachment na diplomacia brasileira.
O discurso de Temer na ONU buscou consolidar a imagem de um novo governo brasileiro.
Destacado no Brasil, o discurso foi amplamente ignorado no resto do mundo. O "New York Times" publicou uma reportagem sobre a busca da legitimidade, mas a maior parte da mídia estrangeira registrou a fala de Temer apenas em notas de agências de notícias.
Segundo Guilherme Casarões, professor da FGV, "Aa dedicar a parte final do discurso a uma longa menção à Constituição e à força das instituições políticas, Temer quis neutralizar a 'narrativa do golpe'. Não é a primeira vez que a ONU é palco da política doméstica: Dilma valeu-se de expediente idêntico, com sinais trocados, em seu discurso de 2015. Se, à época, a pauta era a denúncia do impeachment, hoje Temer trata de justificar o processo aos interlocutores globais". A avaliação foi feita em artigo publicado no "Estado de S. Paulo".
"O fechamento do discurso de Temer mostra a necessidade de reforçar sua legitimidade internacional e que os temas de política externa, embora importantes, seguirão sem grandes novidades na nova administração", explicou.
O questionamento da legitimidade do governo Temer ficou evidente no começo do seu discurso, quando algumas delegações latino-americanas se retiraram da sala após o presidente ser chamado a discursar. Equador, Costa Rica, Bolívia, Venezuela, Cuba e Nicarágua saíram da Assembleia em protesto.
Ainda assim, é importante notar que a presença de Temer como presidente em importantes eventos globais, como a Assembleia da ONU e, antes, o fórum das maiores economias do mundo, no encontro do G-20, ajuda a consolidar nos resto do mundo sua imagem como o presidente brasileiro, e não mais apenas um interino. Mesmo com protestos e questionamentos, e mesmo que ele ainda seja criticado, Temer está trabalhando para fortalecer esta imagem internacional.
É difícil saber até que ponto a estratégia está funcionando, entretanto. A maior parte da grande imprensa internacional questionou o processo de impeachment, mas não aceitou a tese de que a derrubada do governo Dilma foi um golpe. A imagem mais forte que ficou na mídia estrangeira foi a de um país com política disfuncional, o que continua perceptível.
Na reportagem sobre a busca de Temer por legitimidade, o "New York Times" lembrou que o presidente foi citado em escândalos de corrupção, e registrou a notícia de que deputados tentaram aprovar, de forma obscura, uma anistia para políticos envolvidos em denúncias de caixa-dois – indicações de que a política brasileira não passou a ser vista como mais séria após o impeachment.
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