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Na ONU, Temer tenta legitimar governo brasileiro, visto como 'disfuncional'

Daniel Buarque

21/09/2016 10h36

Na ONU, Temer tenta legitimar no mundo a política disfuncional do Brasil

Na ONU, Temer tenta legitimar no mundo a política disfuncional do Brasil

A legitimidade do governo brasileiro no resto do mundo tem sido um ponto importante da política nacional neste ano turbulento. O processo teve um ponto importante no discurso do presidente Michel Temer a abertura da Assembleia da ONU, em Nova York, quando ele defendeu que o impeachment seguiu a Constituição.

Desde o início do debate sobre impeachment, antes da votação contra Dilma Rousseff na Câmara de deputados, do seu afastamento e de Temer assumir a Presidência, grupos opostos têm disputado a imagem da política brasileira no mundo.

Dilma e o ex-presidente Lula deram uma série de entrevistas à imprensa internacional, denunciando o impeachment como um golpe de Estado. Enquanto isso, o grupo que liderou o movimento para tirar o PT do poder mandou emissário aos EUA para defender o impeachment e criou uma política de defesa do processo de impeachment na diplomacia brasileira.

O discurso de Temer na ONU buscou consolidar a imagem de um novo governo brasileiro.

Destacado no Brasil, o discurso foi amplamente ignorado no resto do mundo. O "New York Times" publicou uma reportagem sobre a busca da legitimidade, mas a maior parte da mídia estrangeira registrou a fala de Temer apenas em notas de agências de notícias.

Segundo Guilherme Casarões, professor da FGV, "Aa dedicar a parte final do discurso a uma longa menção à Constituição e à força das instituições políticas, Temer quis neutralizar a 'narrativa do golpe'. Não é a primeira vez que a ONU é palco da política doméstica: Dilma valeu-se de expediente idêntico, com sinais trocados, em seu discurso de 2015. Se, à época, a pauta era a denúncia do impeachment, hoje Temer trata de justificar o processo aos interlocutores globais". A avaliação foi feita em artigo publicado no "Estado de S. Paulo".

"O fechamento do discurso de Temer mostra a necessidade de reforçar sua legitimidade internacional e que os temas de política externa, embora importantes, seguirão sem grandes novidades na nova administração", explicou.

O questionamento da legitimidade do governo Temer ficou evidente no começo do seu discurso, quando algumas delegações latino-americanas se retiraram da sala após o presidente ser chamado a discursar. Equador, Costa Rica, Bolívia, Venezuela, Cuba e Nicarágua saíram da Assembleia em protesto.

Ainda assim, é importante notar que a presença de Temer como presidente em importantes eventos globais, como a Assembleia da ONU e, antes, o fórum das maiores economias do mundo, no encontro do G-20, ajuda a consolidar nos resto do mundo sua imagem como o presidente brasileiro, e não mais apenas um interino. Mesmo com protestos e questionamentos, e mesmo que ele ainda seja criticado, Temer está trabalhando para fortalecer esta imagem internacional.

É difícil saber até que ponto a estratégia está funcionando, entretanto. A maior parte da grande imprensa internacional questionou o processo de impeachment, mas não aceitou a tese de que a derrubada do governo Dilma foi um golpe. A imagem mais forte que ficou na mídia estrangeira foi a de um país com política disfuncional, o que continua perceptível.

Na reportagem sobre a busca de Temer por legitimidade, o "New York Times" lembrou que o presidente foi citado em escândalos de corrupção, e registrou a notícia de que deputados tentaram aprovar, de forma obscura, uma anistia para políticos envolvidos em denúncias de caixa-dois – indicações de que a política brasileira não passou a ser vista como mais séria após o impeachment.

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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