Impeachment de Dilma arranha imagem do Brasil, diz cientista política
O processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, vai encolher a presença do Brasil no mundo, segundo a professora titular de ciência política da Universidade de São Paulo Maria Hermínia Tavares de Almeida.
A avaliação foi feita em entrevista ao jornal "Valor Econômico". Para a professora, mesmo que o processo tenha seguido os procedimentos constitucionais, há dúvidas sobre sua legitimidade e o impeachment arranhou a imagem externa do país.
Segundo ela, "lá fora ninguém entende o que são pedaladas e poucos acreditam que são um bom motivo para impeachment".
Maria Hermínia Tavares de Almeida: Certa feita, aí pela década dos 1970, perguntaram ao primeiro-ministro chinês Chu En-Lai quais teriam sido as consequências da Revolução Francesa de 1789, ao que ele teria respondido que era ainda muito cedo para dizer. Não tenho a menor ideia de qual será o julgamento da história. Pessoalmente, acredito que não se tratou de um golpe, mas que, mesmo assim, foi um evento traumático; talvez evitável, se o governo Dilma tivesse mostrado mais disposição para conversar e negociar e se o candidato do PSDB, derrotado em 2014, não tivesse apostado na possibilidade de afastar a presidente, no dia seguinte das eleições presidenciais. O impeachment, mesmo seguindo os procedimentos constitucionais, arranhou a imagem externa do país. Lá fora ninguém entende o que são pedaladas e poucos acreditam que são um bom motivo para impeachment. Todos sabem que a presidente caiu porque perdeu sua base de apoio parlamentar e, em consequência, a capacidade de governar. E isso gera dúvidas com relação à legitimidade de seu afastamento, mesmo seguindo os procedimentos estabelecidos pela Constituição. Falo aqui de setores moderados do establishment e da imprensa internacionais. Ficamos menores diante do mundo."
É difícil medir este impacto do impeachment na imagem internacional do Brasil, e mais difícil ainda saber se há de fato este "arranhão" na imagem. Em alguns momentos, ao contrário da avaliação da cientista política, pode-se ter a impressão de que a crise política e o impeachment aumentaram a presença do Brasil na imprensa internacional, ampliando a imagem do país (mesmo que uma imagem negativa) em vez de encolher esta presença.
Mesmo assim, uma avaliação da cobertura do processo na imprensa internacional leva à conclusão de que realmente tem sido comum a crítica generalizada ao sistema político brasileiro, o que pode reforçar uma imagem ruim.
Por outro lado, a imagem do Brasil no exterior nunca foi a de um país rico, ou de um exemplo de seriedade política – portanto as crises não chegam a surpreender observadores externos ou a alterar a imagem que se tem do país.
Pelo contrário, o impeachment se aproxima do seu fim bem perto da Olimpíada, evento que colocou o Brasil nos holofotes do mundo e que serviu para reforçar estereótipos do país e mostrar seu lado mais decorativo. Depois dos Jogos e do impeachment, o Brasil sai mais uma vez como um país com avaliação negativa de aspectos de política e economia, mas cada vez mais positivas em aspectos de cultura e sociedade.
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