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Após pedir renúncia de Dilma, 'Le Monde' chama impeachment de farsa

Daniel Buarque

27/08/2016 15h49

Após pedir renúncia de Dilma, 'Le Monde' chama impeachment de farsa política

Após pedir renúncia de Dilma, 'Le Monde' chama impeachment de farsa política

Se o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff não é um golpe de Estado, é no mínimo uma farsa, uma tragicomédia política, diz um editorial do jornal francês "Le Monde". As verdadeiras vítimas do processo, segundo o jornal, não é Dilma, mas os próprios brasileiros.

"Dilma Rousseff cometeu erros políticos, econômicos e estratégicos. Mas sua expulsão, motivada por peripécias contábeis às quais ela recorreu bem como muitos outros presidentes, não ficará para a posteridade como um episódio glorioso da jovem democracia brasileira", defende o "Monde"

O jornal critica o processo, mas admite que o impeachment está previsto pela Constituição brasileira e tem roupagem de legitimidade. "De fato, ninguém veio tirar Dilma Rousseff, reeleita em 2014, usando baionetas."

O 'Monde' destaca ainda a ironia de que a presidente afastada tenha perdido força política em meio a manifestações contra a corrupção no país, mas que ela não é acusada por envolvimento nesses esquemas.

O editorial consolida uma mudança de posição do "Monde" em relação à política brasileira, que diminuiu o tom de críticas à presidente afastada e passou a ser mais forte contra o processo político em curso no país.

Em um texto de opinião publicado em março, o jornal criticava a defesa do governo e defendia a renúncia da presidente. Segundo o texto da época, o governo deveria escolher melhor os termos usados para se defender em meio à crise política do país, sem falar em "golpe" para tentar desqualificar o posicionamento da oposição.

O texto foi publicado com o título em francês "Ceci n'est pas un coup d'Etat" (Isso não é um golpe de Estado). Ele questionava a posição do governo e defendia que "a destituição de um chefe de Estado é prevista e regulamentada pela Constituição brasileira".

O editorial de março foi criticado internamente no jornal, e o "Monde" passou a ser mais cuidadoso com a cobertura da política brasileira desde então.

Dois meses depois, em maio, o jornal dizia que Dilma foi retirada do poder de forma brutal após manobras que não honram o conjunto da classe política brasileira, já bastante desacreditada.

"Na verdade, o triste caso e a última manifestação de um enorme mal-estar provocado por um mundo político amplamente corrompido, tanto à direita quanto à esquerda", dizia o jornal. "Sem dúvida seria melhor ter novas eleições", completou.

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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