Kenneth Maxwell: Importância do Brasil vai além de euforia e depressão
O Brasil importa, diz o historiador norte-americano Kenneth Maxwell em um artigo publicado no jornal "Valor Econômico".
Enquanto os Jogos Olímpicos começam no Rio de Janeiro e o mundo começa a prestar mais atenção ao país que tinha tudo para se destacar, mas começou a enfrentar uma grave crise, é importante fugir dessa característica pendular da forma como o Brasil é visto, e encarar a realidade longe de euforia e de depressão.
"Ao olhar para o Brasil de fora, entretanto, é sempre importante evitar extremos", defende o fundador do programa sobre Brasil na Universidade Harvard, diretor de estudos sobre a América Latina no Council on Foreign Relations, em Nova York, e autor de livros sobre o Brasil, como "A Devassa da Devassa" (Paz e Terra).
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"O Brasil nunca esteve 'com tudo', como muitos proclamaram há não tanto tempo durante os anos de auge do presidente Lula, quando a China não parava de comprar commodities e outros produtos de exportação brasileiros, quando parecia que novos recursos petrolíferos marítimos promoveriam um futuro brilhante, quando o Brasil parecia criar alianças com as novas potências promissoras do mundo, como parte da parceria estratégica dos países do Brics, e quando Venezuela, Bolívia e Argentina prometiam uma nova união regional para conter a influência dos Estados Unidos no hemisfério Ocidental. Por outro lado, agora o Brasil tampouco está "com nada", destinado ao isolamento e à insignificância", diz.
A análise faz parte de uma interpretação comum á academia internacional voltada ao Brasil. A imagem do país parece sempre oscilar entre a euforia e a depressão exageradas, enquanto o país de fato, real, é muito mais complexo.
O próprio Maxwell indicou isso em uma entrevista concedida à BBC Brasil, em março deste ano.
"A imagem internacional do Brasil não poderia estar pior. A imagem do Brasil tende a ir da euforia às previsões de desastre. Na realidade ,nunca é tão boa ou tão ruim, e o Brasil é um país vasto onde algumas coisas funcionam bem e onde há uma esperança permanente no futuro. Mas atualmente é muito difícil encontrar algo positivo em meio ao tsunami de notícias ruins", disse então.
Falou de forma parecida também em julho, em entrevista à revista "Época", quando ressaltou que a situação do Brasil passa por fluxos constantes que se alternam entre esperança e desespero, e que é importante ter uma perspectiva de mais longo prazo.
"Quando as pessoas escrevem livros sobre o Brasil, eu as aconselho a não escrever que o Brasil está em ascensão ou em queda. Porque, senão, o livro ficará desatualizado quando for publicado. O Brasil tem de abandonar essas ideias de que é o país do futuro ou o país que nunca vai para a frente. O Brasil é um país grande e complicado e tem um sistema político muito complexo, com vários interesses envolvidos. O Brasil vai sobreviver a este momento de depressão", disse.
Para uma análise mais sóbria do momento atual, Maxwell se volta, no artigo do Valor, ao resto do mundo, onde tambem há graves crises e incertezas como o "brexit" na Europa e a candidatura de Donald Trump à Presidência dos EUA.
"O Brasil decididamente não é o único. Muitos países enfrentam graves problemas, em especial nas democracias avançadas, onde há grande divisão separando as elites políticas da massa da população e há enormes deslocamentos das placas tectônicas dos assuntos internacionais, sem nenhuma indicação clara sobre o que o futuro nos reserva", explica.
Ainda assim, o historiador diz que o Brasil precisa encontrar um novo papel no mundo.
"Um papel que seja desprovido de presunções e realista nas aspirações. É importante, contudo, reconhecer que o Brasil não vai desaparecer. Isso é certo. E as riquezas da cultura brasileira, de seus recursos, de sua população, assistida e educada apropriadamente por um governo democrata responsável – que é, sempre deve ser lembrado, o maior feito do Brasil – e de sua vasta beleza natural ainda têm muito a oferecer ao mundo."
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