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'The Atlantic': Brasil é 'democracia dúbia', mas impeachment não é 'golpe'

Daniel Buarque

04/05/2016 07h41

'The Atlantic': Brasil é 'democracia dúbia', mas impeachment não é 'golpe'

'The Atlantic': Brasil é 'democracia dúbia', mas impeachment não é 'golpe'

A revista norte-americana "The Atlantic" fez o mais minucioso trabalho de análise objetiva sobre a possibilidade de se usar o termo "golpe" para descrever o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Após um levantamento de definições da terminologia, estudo de histórico de golpes em todo o mundo e avaliação de trabalhos sobre democracias e rupturas democráticas, a revista critica todo os sistema político do país, mas rejeita o uso da palavra.

O Brasil, diz, precisa ser entendido como uma "democracia dúbia" e cheia de problemas que precisam ser resolvidos. O processo está equivocado, e as regras democráticas estão sendo usadas de forma errada, mas o impeachment não deveria ser chamado de golpe.

A situação é crítica, e nada está correndo bem no Brasil, mas o termo não é preciso para o que o país está passando, explica.

"'Golpe' não captura o que aflige a República Federativa do Brasil", diz o jornalista Uri Friedman.

Isso não significa que está tudo bem em Brasília e que o impeachment é um processo legítimo, entretanto, pois há no país um uso equivocado dos processos democráticos, diz.

"É uma democracia dúbia, um velho problema com nova urgência no Brasil e em outros lugares. E reconhecer isso pode gerar reformas úteis. No Brasil, as pessoas preocupadas com o que está acontecendo podem defender garantias mais resistentes para presidentes que enfrentam impeachment. (Por que, por exemplo, deputados puderam revelar suas posições sobre o impeachment à mídia antes da votação na Câmara?) Ou brasileiros poderiam buscar resolver falhar em um sistema presidencial que tantos partidos políticos que funciona como um parlamentarismo", avalia a reportagem.

Segundo a revista, em vez de interpretar o processo de impeachment no Brasil e no Paraguai como representativos de uma nova forma de golpes de Estado do século XXI, "talvez seja mais produtivo descartar a terminologia do golpe completamente, particularmente em uma região onde o termo é tão marcado por rupturas reais e traumáticas da democracia. O voto de impeachment no Brasil 'é análogo a um júri decidindo sobre um réu baseado não nas acusações, mas no fato de acharem que ela é uma má pessoa', escreveu a cientista política Amy Erica Smith. 'Isso não constitui um golpe, mas é um uso equivocado dos processos democráticos."', diz a revista.

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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