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Mídia estrangeira avalia postura política da imprensa brasileira na crise

Daniel Buarque

12/04/2016 10h40

Mídia estrangeira avalia postura política da imprensa brasileira na crise

Mídia estrangeira avalia postura política da imprensa brasileira na crise

Uma reportagem publicada no jornal britânico "The Independent" acusa a imprensa brasileira de ser muito partidária e causar danos ao processo político do país. Segundo o jornal, a mídia nacional distorce e manipula a cobertura jornalística da crise política, dando vantagem à oposição à presidente Dilma Rousseff.

O texto publicado no "Independent" é o mais recente e mais longo a tratar de um tema que já apareceu outras vezes na mídia internacional. Jornalistas e acadêmicos estrangeiros têm avaliado a cobertura da imprensa brasileira, e não são raras as críticas sobre "partidarismo".

O tema ganhou destaque no resto do mundo especialmente após as entrevistas concedidas por Dilma e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a jornais estrangeiros, em março. Nos dois casos, eles evidenciam o momento ruim da relação entre o governo e a imprensa nacional. O clima de "hostilidade" foi percebido especialmente na conversa dos jornais de outros países com Lula, que atacou o jornalismo político do Brasil.

O jornal espanhol "El País" foi uma das publicações que percebeu os problemas na relação entre o governo e a imprensa, e tratou a entrevista de Lula como sintoma do estado das relações entre o governo e a imprensa nacional. O jornal mexicano "El Universal" chegou até mesmo a usar a questão da relação com a mídia em sua manchete: "Lula: Imprensa geram no Brasil clima similar ao da Venezuela", diz, em comparação com a forte tensão política no país governado por Nicolás Maduro.

O site belga "La Libre" foi outro a tratar do tema recentemente. Em uma reportagem publicada na semana passada, o portal diz que "a mídia brasileira faz campanha contra Dilma".

Segundo o "Independent", em vez de mostrar as notícias sobre a crise brasileira em tons de cinza que representem bem os temas ambíguos e complicados da situação atual, a imprensa nacional assumiu uma narrativa simplista, que polariza a população em um debate entre os "bons" e os "maus".

A publicação ressalta ainda que esta simplificação dos temas políticos gerou protestos contra a mídia brasileira, destacando manifestações em frente à sede da TV Globo.

Em um artigo publicado pelo blog de política da Universidade de Oxford, entretanto, o pesquisador brasileiro João Carlos Magalhães argumenta que apesar de a mídia brasileira ter grandes falhas, jornais e emissoras não podem ser culpados pelo ambiente político tóxico que tomou conta do país. "O quadro é muito mais complexo", diz.

Um dos pontos centrais da análise de Magalhães, que trabalhou como jornalista na "Folha de S.Paulo" e agora faz doutorado sobre a ética das plataformas digitais na London School of Economics, é de que a chamada "grande mídia" talvez não tenha mais a força que as pessoas acham que ela tem.

"Afirmar que a grande mídia gesta um golpe ou irresponsavelmente inflama seu público, como muitos argumentam, é uma ilusão confortável", diz. "Não porque os barões da mídia não queiram o impeachment, ou porque sejam campeões da democracia, mas porque nem se quisessem eles poderiam, sozinhos, dar um golpe. A grande mídia, a despeito de todo seu poder, não mais comanda a narrativa — e, acreditem, ela adoraria comandar. A fragmentação do sistema midiático também implica em uma fragmentação da ação moral, e com isso da responsabilidade moral também", complementa.

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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