Mídia estrangeira avalia postura política da imprensa brasileira na crise
Uma reportagem publicada no jornal britânico "The Independent" acusa a imprensa brasileira de ser muito partidária e causar danos ao processo político do país. Segundo o jornal, a mídia nacional distorce e manipula a cobertura jornalística da crise política, dando vantagem à oposição à presidente Dilma Rousseff.
O texto publicado no "Independent" é o mais recente e mais longo a tratar de um tema que já apareceu outras vezes na mídia internacional. Jornalistas e acadêmicos estrangeiros têm avaliado a cobertura da imprensa brasileira, e não são raras as críticas sobre "partidarismo".
O tema ganhou destaque no resto do mundo especialmente após as entrevistas concedidas por Dilma e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a jornais estrangeiros, em março. Nos dois casos, eles evidenciam o momento ruim da relação entre o governo e a imprensa nacional. O clima de "hostilidade" foi percebido especialmente na conversa dos jornais de outros países com Lula, que atacou o jornalismo político do Brasil.
O jornal espanhol "El País" foi uma das publicações que percebeu os problemas na relação entre o governo e a imprensa, e tratou a entrevista de Lula como sintoma do estado das relações entre o governo e a imprensa nacional. O jornal mexicano "El Universal" chegou até mesmo a usar a questão da relação com a mídia em sua manchete: "Lula: Imprensa geram no Brasil clima similar ao da Venezuela", diz, em comparação com a forte tensão política no país governado por Nicolás Maduro.
O site belga "La Libre" foi outro a tratar do tema recentemente. Em uma reportagem publicada na semana passada, o portal diz que "a mídia brasileira faz campanha contra Dilma".
Segundo o "Independent", em vez de mostrar as notícias sobre a crise brasileira em tons de cinza que representem bem os temas ambíguos e complicados da situação atual, a imprensa nacional assumiu uma narrativa simplista, que polariza a população em um debate entre os "bons" e os "maus".
A publicação ressalta ainda que esta simplificação dos temas políticos gerou protestos contra a mídia brasileira, destacando manifestações em frente à sede da TV Globo.
Em um artigo publicado pelo blog de política da Universidade de Oxford, entretanto, o pesquisador brasileiro João Carlos Magalhães argumenta que apesar de a mídia brasileira ter grandes falhas, jornais e emissoras não podem ser culpados pelo ambiente político tóxico que tomou conta do país. "O quadro é muito mais complexo", diz.
Um dos pontos centrais da análise de Magalhães, que trabalhou como jornalista na "Folha de S.Paulo" e agora faz doutorado sobre a ética das plataformas digitais na London School of Economics, é de que a chamada "grande mídia" talvez não tenha mais a força que as pessoas acham que ela tem.
"Afirmar que a grande mídia gesta um golpe ou irresponsavelmente inflama seu público, como muitos argumentam, é uma ilusão confortável", diz. "Não porque os barões da mídia não queiram o impeachment, ou porque sejam campeões da democracia, mas porque nem se quisessem eles poderiam, sozinhos, dar um golpe. A grande mídia, a despeito de todo seu poder, não mais comanda a narrativa — e, acreditem, ela adoraria comandar. A fragmentação do sistema midiático também implica em uma fragmentação da ação moral, e com isso da responsabilidade moral também", complementa.
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