Jorge Castañeda: Capas da 'Economist' erraram previsões sobre o Brasil
As imagens que se tornaram símbolo da reputação internacional do Brasil nos últimos anos, as capas da revista "The Economist" retratando a ascensão e a queda do Brasil no cenário global, erraram suas previsões sobre o país. A avaliação é do ex-chanceler mexicano e professor da Universidade de Nova York, Jorge Castañeda.
"Os economistas sempre erram! A 'Economist' é uma revista maravilhosa, mas nunca acerta", disse Castañeda, em entrevista à "Folha de S.Paulo". O mexicano avaliou ainda a crise por que está passando a esquerda na América Latina, e as perspectivas do Brasil e do resto do continente.
Para ele, a perspectiva de impeachment no país não pode ser comparada a um golpe. "Se Dilma sofrer impeachment, é porque o Congresso votou contra ela. Será perfeitamente legal", disse.
Veja abaixo alguns trechos da entrevista.
Leia a entrevista completa na Folha.
Pergunta – No "New York Times", você diz que o continente não pode apostar numa economia diversificada. Temos de nos contentar com commodities?
Jorge Castañeda – O Brasil é diferente porque tem uma base industrial enorme. Mas outros países têm sonhado em diversificar suas exportações há 150 anos. Isso não aconteceu, e nem acho que vá acontecer.
Se você tem períodos de boom econômico como o da década passada, a tentação de continuar nessa inércia é forte, e as vantagens parecem compensadoras. Essa ideia de que, um dia, em vez de exportar cobre, o Chile vai exportar vinhos não vai acontecer. Eles têm ótimos vinhos, mas faria mais sentido se investissem na exportação de forma sábia, transparente.
Você diz que o caso brasileiro é diferente. Onde erramos?
Jorge Castañeda – A primeira coisa, e talvez a mais importante, é que os economistas disseram que vocês seriam um sucesso. Se os economistas dizem isso, você quase certamente será um fracasso. Os economistas sempre erram! A "Economist" é uma revista maravilhosa, mas nunca acerta.
Quando o Cristo Redentor estava decolando, e depois quando despencou no mar, as duas capas se equivaliam: ambas eram falsas.
O Brasil investia muito pouco. As taxas de investimento estavam em 17%, 18% do PIB, e o país não seria capaz de crescer como antes, criar a infraestrutura necessária, gerar o tipo de educação que precisa, nem investir mais.
Talvez porque os impostos fossem muito altos, e essa é a resposta neoliberal. Talvez porque as taxas de poupança fossem baixas. Em segundo lugar, [o presidente] Lula escolheu não mudar a Constituição atrás de um terceiro mandato. Mas optou por fazer o possível para garantir que o PT continuasse no poder. E começou a usar a economia para propósitos políticos.
Pergunta -O Brasil tem visto confrontos entre grupos pró e contra o governo. Pode piorar?
Jorge Castañeda – O Brasil não é a Venezuela, tem instituições fortes. Talvez alguns conflitos locais, mas não acho que a crise política será resolvida nas ruas, e sim no Congresso ou nas cortes. A vitalidade do Judiciário, por exemplo, é satisfatória, ainda que em certas ocasiões haja excessos, alguns juízes talvez desejosos de manchetes.
Pergunta – Se Dilma cair, é golpe?
Jorge Castañeda – O golpe ocorre à margem da lei, de forma violenta. Se Dilma sofrer impeachment, é porque o Congresso votou contra ela. Será perfeitamente legal. O que ela precisa decidir é se quer lutar ou se resignar.
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