Depoimento de Lula é 'tendência' global, e mídia vê risco de violência
Menos de uma hora depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter sido levado para depoimento na Polícia Federal no aeroporto de Congonhas, na manhã desta sexta-feira (4), o Brasil já se tornava uma "tendência" internacional – um dos temas mais lidos e comentados na internet de todo o mundo. Centenas de notícias sobre a nova fase da operação Lava Jato e a condução coercitiva do ex-presidente foram publicadas em diferentes idiomas na imprensa internacional, e é fácil imaginar que o mundo está atento ao momento turbulento por que passa o país.
Às 9h da manhã, a publicação quase simultânea de mais de 400 reportagens publicadas em inglês mencionando o ex-presidente fizeram com que Lula chegasse ao topo das "tendências" de navegação do Google, o "Trends", que indica temas mais buscados e lidos na internet (não apenas no Brasil). Em inglês, o Google destacava reportagens que relatavam a investigação contra ele. Alguns desses textos mencionavam erroneamente que Lula havia sido "detido" – o que na verdade não ocorreu, pois foi apenas levado para prestar depoimento.
O tema também dominou as redes sociais. Durante todo o dia, o nome do ex-presidente foi a palavra mais usada do Twitter global. "Lula" apareceu desde cedo no topo dos Trending Topics de todo o mundo – o que foi impulsionado tanto por mensagens de críticas quanto de apoio a ele.
O tom inicial da repercussão internacional sobre o depoimento do ex-presidente foi seco, mais noticioso de que analítico. É normal que a cobertura internacional dê atenção primeiro aos fatos, para depois começar a publicar análises mais aprofundadas.
Isso é o que se pode ver na cobertura dos portais dos principais veículos internacionais. Em sua reportagem sobre o depoimento de Lula, o "New York Times" explica que o Brasil está vivenciando uma onda de investigações contra corrupção em meio a uma grave crise econômica e política. "A ação contra Lula levanta questões sobre seu futuro político e as ambições do Partido dos Trabalhadores de se manter na Presidência", diz. O espanhol "El País" informou que foram feitas buscas na casa do ex-presidente a rede britânica BBC chegou a dar uma notícia como urgente: "Polícia do Brasil faz buscas na casa de Lula".
Além das acusações, a importância política de Lula para o país e sua popularidade ganharam destaque na maioria das publicações internacionais.
O site da rádio pública dos Estados Unidos, NPR, destacou que a investigação "tocou no homem que já foi chamado de 'político mais popular da Terra"'. A rede de TV CNN se referiu a Lula como "ex-presidente incontrolavelmente popular", e destacou que o PT acusou a ação de ser motivada por interesses políticos. Na rede de economia Bloomberg, o comentarista John Fraher disse que é muito difícil subestimar a dimensão da importância do ex-presidente. "Ele é a figura mais importante da política brasileira nas últimas duas décadas", explicou, chamando o depoimento de uma virada "dramática" para o Brasil.
Em meio a uma onda de reportagens mais noticiosas de que analíticas, a revista norte-americana "Americas Quarterly" foi uma das primeiras a fazer uma avaliação mais ampla da nova fase da Lava Jato envolvendo o ex-presidente. Apesar de ter uma tendência mais liberal, a avaliação inicial foi equilibrada a respeito dos possíveis efeitos da ação contra Lula, e demonstra preocupação a respeito dos efeitos disso para a democracia brasileira.
"A detenção de Lula mostra que ninguém está acima da lei, mas também traz o risco de violência nos próximos dias". A preocupação está no título do texto escrito por Brian Winter, editor-chefe da "AQ" e autor de quatro livros sobre a América do Sul: "Não deixem o Brasil se tornar a Venezuela".
Segundo a "AQ", revista editada pela Americas Society and Council of the Americas, as próximas 72 horas vão ser críticas para o futuro da democracia brasileira, enquanto manifestantes denunciam "golpe" e prometem "guerra".
"O Brasil não é a Venezuela – é um país grande com instituições democráticas fortes e em funcionamento, uma grande valorização do pluralismo e pouca história recente de violência política. Mas também é verdade que Lula não é um político comum. Mais de que isso, ele é um símbolo que muitas vezes é difícil para estrangeiros (e até alguns brasileiros) entenderem", diz a publicação.
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