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Blog do Brasilianismo

Mídia estrangeira destaca desastre ambiental em MG e busca responsáveis

Daniel Buarque

12/11/2015 12h24

"De quem é a culpa pelo desastre?", questiona site independente "The Conversation"

O mundo todo tem recebido notícias diárias sobre o desastre ocorrido em Minas Gerais na semana passada. Mais de mil reportagens podem ser lidas em diferentes idiomas em publicações de todo o planeta. E o tom em geral é focado no enorme desastre ambiental causado pelo rompimento, bem como a busca de responsabilidades pelo incidente e o impacto econômico dessa tragédia.

A cobertura internacional tem sido ampla graças especialmente às agências de notícias. Reuters, France Presse e Associated Press têm enviado direto da região afetada a todo o mundo várias reportagens por dia com atualizações sobre o caso. E essas reportagens saem nos principais jornais do mundo (do "New York Times" ao "Guardian", a "Le Monde" e até em publicações da China).

O "New York Times", por exemplo, destacou uma reportagem da AP buscando responsáveis pelo desastre.

"Negligência e erro humano são as prováveis causas do rompimento de duas barragens no Brasil na semana passada, criando uma onda de lama que matou quatro pessoas e deixou outras 22 desaparecidas", diz o texto do dia 10, antes de serem confirmadas outras mortes.

Segundo a AP, a barragem não tinha licença para operar por conta de riscos de desestabilização.

Reportagem da Reuters sobre o desastre publicada no

Reportagem da Reuters sobre o desastre publicada no "Guardian"

Uma das reportagens mais abrangentes da Reuters, republicada pelo "Guardian", fala sobre a necessidade de novas regulamentações para mineradoras.

Segundo o texto, o desespero inicial com a tragédia deu lugar à raiva porque "um dos maiores desastres da mineração na história do Brasil" poderia ter sido evitado.

"A destruição alcançou 100 km de distância desde o local do rompimento das barragens", diz. "O turismo e outras indústrias já estão sofrendo", completa.

"A crítica pública caiu primeiro sobre a operadora Samarco, mas a atenção se voltou a grandes nomes do empreendimento compartilhado pela australiana BHP Billiton, a maior empresa mineradora do mundo, e a brasileira Vale, a maior mineradora de ferro", diz. Segundo o texto, a BHP foi mais rápida de que a Vale ao responder ao desastre.

A Reuters publicou ainda uma reportagem em que diz que o governo brasileiro vai multar a BHP e a Vale pela catástrofe ambiental causada pelo rompimento da barragem.

No francês "Le Monde", uma reportagem da AFP deu a dimensão do desastre ao destacar que a onda de lama tóxica se espalhou por toda a região de Minas Gerais. "Toda a cidade foi inundada", diz.

Com um olhar mais econômico, o "Wall Street Journal" publicou uma reportagem explicando que a responsabilização da Samarco não protege as empresas responsáveis por ela (mais uma vez BHP e Vale) de serem consideradas culpadas igualmente.

Segundo o "WSJ", o Brasil pode processar as empresas por responsabilidade administrativa, civil e criminal.

O "Financial Times" também fez uma abordagem mais econômica do caso, e indica a desvalorização de ações da BHP e da Vale nas Bolsas internacionais, chegando a indicar que o desastre pode ser uma sombra par as empresas.

O site de jornalismo independente "The Conversation" publicou uma análise bem aprofundada do caso. No texto, o diretor de pesquisas de desenvolvimento sustentável da universidade australiana de Queensland, na Austrália, Saleem H. Ali, tenta entender de quem é a responsabilidade pela catástrofe.

Ali explica que havia um relatório de 2013 apontando os riscos de problemas nas barragens que se romperam, mas leva a avaliação além. "Quando desastres assim acontecem, noss primeiro impulso é procurar um culpado. Sem dúvida é preciso haver responsabilização se houve qualquer confluência de erros humanos nesta falha. Entretanto, na pressa de apontar culpa, precisamos considerar como essas falhas podem acontecer."

O primeiro passo, segundo ele, é excluir as hipóteses relacionadas a causas naturais. O pequeno tremor registrado na região e a ausência de chuvas fortes indicam que os fatores naturais devem ser desconsiderados, diz.

Segundo Ali, o número de acidentes com barragens e companhias mineradoras tem aumentado no mundo, e desde 2005 foram criadas novas regras para evitar problemas deste tipo. Para ele, o mais importante é criar e implementar as regulamentações que impeçam novos desastre. "A culpa pelo desastre atual vai depender em parte de saber se as regulamentações foram seguidas", diz.

"Empresas como a BHP e a Vale deveriam abordar este problema com humildade. Se há culpa para eles, eles deveriam aceitar e aprender com os erros", diz.

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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