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Deu no 'Valor': Debate político no país é passional, diz brasilianista

Daniel Buarque

26/10/2015 09h26

Deu no 'Valor': Debate político no país é passional, diz brasilianista

Deu no 'Valor': Debate político no país é passional, diz brasilianista

O jornal "Valor Econômico" publicou nesta segunda-feira uma entrevista que o autor deste blog Brasilianismo fez com o brasilianista Anthony Pereira durante uma viagem junto com pesquisadores estrangeiros ao Pantanal do Mato Grosso do Sul. A viagem, já citada no blog, serviu para oficializar uma parceria entre o King's College de Londres e a Marinha brasileira, para o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas.

O diretor do Brazil Institute, Anthony Pereira, durante viagem ao Pantanal (Foto: Mariana Campos)

O diretor do Brazil Institute, Anthony Pereira, durante viagem ao Pantanal (Foto: Mariana Campos)

Pereira é diretor do Brazil Institute e presidente da Brazilian Studies Association (Brasa), organização que reúne mais de 500 pesquisadores estrangeiros que se debruçam sobre questões acadêmicas relacionadas ao país. Ele já foi citado antes no blog Brasilianismo por ter escrito o prefácio da nova edição do livro "Brazil, um país do presente: A imagem internacional do 'país do futuro"'.

Em nova edição, livro analisa ascensão e queda da imagem do Brasil no mundo

Anthony Pereira: O mundo está cada vez mais interessado no Brasil

Na entrevista, que pode ser lida na íntegra no site do jornal, pesquisador não nega a existência da crise no país e admite que há problemas na democracia e corrupção no governo, mas defende que há muitos pontos positivos e que é preciso ir além do imediatismo tradicional da mídia e dos investidores, avaliando o momento do país objetivamente e em uma perspectiva de longo prazo.

"O debate político no Brasil atualmente é muito passional".

O pesquisador tentou fazer uma análise mais objetiva da atual crise política brasileira. "Eu tento me colocar de forma mais objetiva. Olhando de fora, conseguimos ver essa questão de forma menos passional de que os analistas que estão no Brasil, avaliando comparativamente e escapando da narrativa das pessoas que estão vivendo a crise, o calor do momento. Falar que este é o governo mais corrupto que já houve, por exemplo, é algo que não tem base comparativa real", diz.

Durante uma série de conversas e uma entrevista de duas horas concedida durante a viagem, Pereira falou sobre o papel do pesquisador estrangeiro. Segundo ele, o termo "brasilianista" se tornou um palavrão, mas defendeu que o trabalho de "tradução" desses estudiosos tem relevância para o Brasil e para a academia internacional. O presidente da Brasa falou ainda sobre os avanços políticos e sociais do Brasil nas últimas décadas, da crise econômica e da obsessão dos brasileiros em entender os que o resto do mundo pensa sobre o país.

Veja a íntegra da entrevista no "Valor": Debate político no Brasil é passional demais

Leia abaixo alguns trechos da entrevista

Pergunta – Quanto do pessismismo atual com o Brasil é real e quanto é só exagero?

Anthony Pereira: Parte do que há hoje é resultado da natureza de expectativas fora da realidade. As pessoas estão desapontadas com o governo porque acham que depois do fim da ditadura havia a oportunidade de mudar a política brasileira e que o PT traiu essa esperança. Como espectador externo, vejo isso como uma expectativa alta demais. Esperar que fosse criada uma democracia social aprofundada e livre de corrupção no intervalo de tempo de uma geração é uma ilusão exagerada. Sou menos exigente como observador externo. Vejo que no período de democratização há grandes ganhos, e que a população está mais educada, mais bem informada, se alimenta melhor; são ganhos imensos. Claro que há problemas na democracia e corrupção no governo do PT, mas há muitos pontos positivos, de evolução, desde 1985, quando fui ao Brasil pela primeira vez. Muitos brasileiros esquecem disso, frustrados por não ter havido um avanço maior. Nenhuma democracia consolidada do mundo se tornou assim de uma hora para a outra, ou no intervalo de uma geração. É um processo longo, e o Brasil fez progressos imensos.

Pergunta – Mesmo com expectativas frustradas, acha que a abordagem da crise política e econômica por que o Brasil passa é exagerada?

Pereira: Durante a crise, com perspectiva de recessão, é fácil se apegar ao que há de negativo, mas no longo prazo, podemos ver que depois de alguns passos atrás, o Brasil vai dar passos adiante novamente. O Brasil de hoje é muito diferente do dos anos 1990, tem grandes reservas, as instituições funcionam e têm força, o judiciário tem uma perspectiva de atuar mais ativamente contra a corrupção. Há uma perspectiva de que os corruptos começam a pagar por seus crimes. São diferenças imensas em relação ao Brasil do passado. Claro que, para mim, é fácil falar, por não ser uma questão pessoal, por não viver dentro da política brasileira, mas ainda assim é possível ser objetivo olhando no longo prazo e ver o que é possível mudar em poucas décadas.

Pergunta – Na década passada, o diagnóstico geral era de que os centros de estudos brasileiros no resto do mundo haviam deixado de ver o país como um lugar exótico, passando a incluir o Brasil em pesquisas mais gerais como um país importante no cenário global. Depois, na virada da década, o Brasil começou a ganhar atenção de estudiosos por conta do crescimento e estabilidade da economia. Agora, enquanto o país passa por uma grave crise econõmica e política, qual é o estado dos estudos brasileiros no mundo? Ainda há espaço para brasilianistas de carreira, pessoas que estudam o brasil em termos genéricos?

Pereira: O termo brasilianista virou um palavrão. Tento fugir de ser chamado assim, pois lembra o acadêmico gringo dos anos 1960 e 1970, ligado ao establishment. Mas acho que há uma contribuição a ser feita por esses pesquisadores. O Instituto Brasil tenta deixar de lado o brasilianista genérico, dando espaço apenas para a presença do Brasil dentro de disciplinas específicas. Acho que o mais importante é ter um pouco dos dois, e é preciso entender essas idiossincrasias do Brasil. Pesquisadores que estudam o Brasil de forma genérica podem trazer pontos importantes de estudos, com grandes contribuições.

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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